Este texto é a continuação do texto intitulado "Yoga e a busca da felicidade"
Jñāna Yoga
Dentro da tradição védica o conhecimento do Eu, chamado de ātma jñāna, é passado na forma tríplice de śravaṇam, escutar o ensinamento, mananam, remover dúvidas sobre o que foi escutado e nididhyāsanam, assimilação do ensinamento. Este ensinamento, tradicionalmente, é escutado dum professor competente que deve ser ao mesmo tempo um śrotriyam, versado no ensino das escrituras e do sampradāya (método de ensino) e um brahmaniṣṭham, aquele que está firme em Brahman (o Todo), que conhece a natureza de si mesmo, aquele que sabe de forma absoluta “Eu sou um ser completo”.
Para ātma jñāna é necessário o instrumento ou meio de conhecimento adequado. Vedānta (também chamado de Jñāna Yoga) é o nome do meio de conhecimento que, através do uso adequado da palavra, revela a natureza do ser essencial que eu sou. E para que o ensinamento de Vedānta faça sentido e remova a ignorância é necessária a adequada preparação por parte do estudante.
Desta preparação fazem parte o Karma Yoga e o Upāsana Yoga (também conhecido como Rāja Yoga).
Karma Yoga
Karma Yoga consiste em agir de forma apropriada e em ter a atitude apropriada em relação aos resultados das acções. Agir apropriadamente significa colocar as nossas acções ao serviço dos demais seres, reduzindo aquelas que fazemos apenas para benefício próprio. Desta forma, tornamo-nos menos consumidores e mais contribuidores neste mundo.
A atitude apropriada em relação aos resultados das nossas acções é experienciar tudo, seja agradável ou desagradável, bom ou mau, prazeroso ou doloroso como Īśvaraprasāda, graça/bênção/oferenda do Absoluto. Uma vez que aceitamos todas as experiências como Īśvara Prasāda, não reagimos a essas experiências, nomeadamente as desagradáveis. Sabemos aceitar tudo aquilo que nos acontece na vida e desenvolvemos uma capacidade para lidarmos com as vicissitudes do quotidiano. Assim, naturalmente, a mente estará mais calma, serena e equânime, samatvam, enquanto actuamos e recebemos o resultado das nossas acções.
Upāsana Yoga
Upāsana Yoga é uma disciplina para integrar a personalidade do ser humano. Integrar corpo, palavra, órgãos dos sentidos e a mente. Este tema é elaboradamente discutido no Aṣṭāṅga Yoga de Patañjali, nos conhecidos Yoga Sūtras. Para que corpo, palavra, sentidos e mente funcionem em conjunto e com um mesmo propósito é necessária uma certa disciplina. É aqui que entra, por exemplo, a prática da meditação. A meditação é um dos melhores métodos para disciplinar a mente e preparar o estudante para o ensinamento de Vedānta, conferindo-lhe uma mente relaxada, concentrada, com capacidade de expansão para se identificar com o Todo e com valores.
Bhakti Yoga
O Bhakti Yoga não é, na realidade, um quarto tipo de Yoga. Bhakti é a relação que o indivíduo estabelece com o Todo, com a inteligência que permeia todo este universo. Bhakti é a atmosfera onde os outros três Yogas se praticam. O Bhakti Yoga não é uma disciplina que se pratica separadamente. Karma, Upāsana e Jñāna Yoga praticam-se imbuídos de bhakti. No Karma Yoga dedicamos todas as acções ao Todo (Īśvara) e aceitamos os resultados sem resistência, com agrado, como Īśvara prāsada. Um karma yogi tem que ter bhakti, sempre. No Upāsana Yoga meditamos sobre Īśvara para desenvolver disciplina mental e integração. E no Jñāna Yoga questionamos sobre a nossa verdadeira natureza e a natureza de Īśvara. A realização de si mesmo não é nada mais do que a realização do Todo.
Tradicionalmente, estes quatros métodos de Yoga não são praticados separadamente. Não se pode dizer que certa pessoa pratica Karma Yoga e outra Jñāna Yoga. Estes Yogas são complementares e todos os praticantes terão que passar por eles, com menor ou maior intensidade, em determinada altura da sua vida. Jñāna Yoga é o instrumento que nos dará o conhecimento sobre a nossa natureza real; Karma e Upāsana preparam-nos para escutar o ensinamento em Jñāna Yoga; e o Bhakti Yoga é a relação que estabelecemos com o Todo, do qual fazemos parte.
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